Artigo

Amizade entre os clássicos: Cícero

Por Paulo Rosa
Hospital Espírita, Caps Porto, Ambulatório Saúde Mental, Telemedicina PM Pelotas
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O romano Marcus Tullius Cícero (106-43 a.C), deixou estudos notáveis em Diálogos sobre a Amizade. Ele refere ali algo que, antes mesmo de conhecer seus escritos, sempre me pareceu: que a amizade é, provavelmente, o que de melhorzinho temos a oferecer para alguém. Ela, a amizade, com certeza, é dos sentimentos menos complicados que possuímos e o mais apto para criar interações. É também das formas que mais proporciona a construção de vínculos amorosos. Nada pouco. Estabelecer laços afetivos com "pessoas, animais ou coisas" - para recordar tempos de escola - é valor maior na criação de sentidos para viver.

Cícero, filósofo e estadista milenar, assinalou caminhos. Estabeleceu algo como uma primeira lei da amizade, consistindo esta em que aos amigos se pedem coisas honestas e por eles fazemos coisas honestas. Sem essa qualidade ímpar não há terreno para germinar algo efetivamente amistoso. É sentimento que "não existe senão entre os bons, os que merecem este título".

Em um diálogo imaginário, falando Lélio a Ênio: "eu só posso aconselhar-vos a que a coloqueis sobre todas as conveniências da vida, porque nenhuma coisa [como a amizade] é tão conforme à natureza, nem tão a propósito para casos favoráveis ou adversos" [...] "assim, são melhores para amigos os cidadãos que os estrangeiros, os parentes que os estranhos, porque entre estes a amizade foi engendrada pela própria natureza, embora não seja de grande constância, pois nisto excede o parentesco à amizade, que nele dura e permanece, ainda sem amor. Na amizade, não; porque faltando o amor, se desfaz" [...] "a amizade é uma suma harmonia nas coisas divinas e humanas, com benevolência e amor" [...] "preferem uns as riquezas, outros o poder, outros as honras e, muitos, os prazeres. Estes últimos são só muito próprios das bestas, e o outro, caduco e perecível, dependente não do nosso arbítrio, mas da inconstante fortuna" [...] "como pode ser suportável a vida que não repousa na mútua benevolência de um amigo?" [...] "que coisa tão doce ter um com quem falar de tudo, tão livremente como consigo mesmo" [...] "seria por ventura tão grande o fruto das prosperidades, se não tivéssemos quem delas se alegrasse tanto quanto nós mesmos? E se poderiam sofrer as adversidades sem alguém que as sentisse ainda mais que aqueles que as experimentou?" [...] "a amizade abarca muitas coisas, para qualquer parte que nos volvamos a encontramos solícita, em todos tem lugar, nunca é impertinente, jamais molesta" [...] "quem é esse que, ao me acordarem de manhã, ele se apressa a responder por mim, dizendo 'sim, aqui'"[...] "faz-se passar por mim, diz que sou eu" [...].

Cícero influenciou inúmeros pensadores posteriores e até modernos que, como ele, sustentaram a ideia de que um amigo é um outro eu, uma espécie de extensão de si, ou um espelho.

Bem pensado o velho romano.

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